domingo, julho 06, 2008

Vísceras

Sou refém de mim próprio,
cativo do meu optimismo.
Não consigo ser verdadeiramente infeliz
porque não fui feito para isso.
Há sempre algo com o qual estou bem,
mesmo quando me sinto mal com tudo o resto
e não sei nem qual é uma coisa nem as outras.
Sinto-me completamente incompleto
e tenho tudo o que fui querendo
e nada mais quero pois tenho tudo, incompletamente.
Fui feito para sofrer assim; baixinho,
com uma luz na alma,
de bem com todos, feliz por fora,
chorando quase sempre num sorriso.
Passou o meu tempo de ter direito a ser triste.
Fiz-me assim, escolhi-me alegre, optimista, solar
e ninguém me conhece doutra maneira...
nem eu...
ninguém me levaria a sério...
nem eu...
Não posso mudar, não seria capaz.
Estou preso de desconhecer a felicidade futura
hipotética...
e a infelicidade também.
E não quero mudar porque sou tão feliz assim; triste
e tão perdido assim; contente.
Fiquei morno, temperado, mediterrânico,
à sombra dum sol que não há
e à luz duma sombra que queria ser negra
mas não consegue!
Espero em vão que a minha chama gélida derreta,
que ferva a minha calota e o meu iceberg.
(metáforas de um sub-trópico cheio de fleuma)
Espero que o sono chegue e ele foge
mas até a insónia se recusa a durar muito.
Queria ser tudo o que nunca fui
e explodir numa espiral de éter e bílis,
mas pensei-me demasiado em equilíbrio
e esqueci-me entretanto de procurar a vida...
passou-me ao lado antes mesmo de começar;
já sei que não vai ser de tanto querer que seja;
já foi outra coisa mesmo que não tenha sido nada;
perdeu o valor embora seja o mais precioso bem.
Não quero a companhia de ninguém,
quero poder repudiar o consolo e o conselho:
basto-me porque aprendi a não depender,
mesmo quando não tenho nada para me dar.
E anulo-me quando finalmente atinjo a plenitude.
Deixo de ser eu para ser só eu...
Queria ser outro eu qualquer enquanto me adoro, 
assim mesmo, a odiar-me, por não me deixar ser triste
e continuo assim, contente...
feliz mesmo...
sem que ninguém saiba...
nem eu.



Sto António já se acabou
O S. Pedro está-se a acabar
S. João, S. João, S. João
Dá cá um balão
para eu brincar

Sardinhas assadas
Bifanas
Kaalfsroket
e cantatas de Bach!

11 comentários:

a disse...

muito bom! Isso foste tu sozinho certo? muitas influências do desassossego, muito bom.

I feel the same, a vida chupa, mas nós gostamos.

sabes quem vai ao boom? blasted... muito estranho...

faltam 8 dias....

Frioleiras disse...

sem dessassossego

não há arte.........
não há música ......


não há sentir.......................

casa de passe disse...

Z, caro Z!!!!!!!!!!!!

não quer vir tomar um cházinho connosco?
Loulou
(sem a Nini, sem a Fininha e muito menos sem o João)

Anónimo disse...

essa é, podes ter a certeza, a melhor maneira de ser feliz. por que a melhor maneira de ser feliz é não ter a capacidade de sentir grandes tristezas e grandes infelicidades.

um abraço

triliti star

droff disse...

ÉCO!!!...............................................

D. Maria e o Coelhinho disse...

VOU DE FÉRIAS COM O COELHINHO!

ATÉ BREVE!


Dª MARIA

Anónimo disse...

Isso é falta de Nery.

casa de passe disse...

por onde andais?


(Loulou+Nini+Alice sem o Avô e sem o safado do João)

Anónimo disse...

so para deixar um beijihno, ha mt tempo q por aqui nao passava.

Anónimo disse...

Já me tinha arrepiado com este texto e voltei a arrepiar-me. Fui lendo e pensando "O que vai naquele rapaz! (rapaz...homem...mano mais velho com o puto ao colo ainda ontem...). Depois lembrei-me de que "o poeta é um fingidor", que é capaz de ficcionar sobre o que sente, ou de inventar o que não sente e passa a existir porque o inventou e escreveu, ou de se distanciar do que sente para o transformar em Arte... Enfim, com estes pensamentos o arrepio foi passando. Seja o que for, quem escreve assim deve continuar a escrever. Bj TiaG

a disse...

ó jovem, 1 ano e quase 2 meses é bué tempo!