terça-feira, abril 25, 2006

25 de Abril (sempre... mesmo que seja a 11 de Maio)

25 de Abril sempre, fascismo nunca mais!!

Faço parte de uma geração para quem esta palavra de ordem é, sobretudo, algo que se ouve gritar uma vez por ano, em manifestações menos numerosas a cada ano que passa, por ocasião das comemorações do aniversário da nossa revolução.
Faço parte de uma geração para quem o significado desta palavra de ordem - como, de resto, tudo o que diz respeito à revolução e seus antecedentes e consequentes mais próximos - é, em grande parte, um exercício de imaginação e abstracção, cabendo a cada indivíduo desta geração (chamemos-lhe "pós-Abril") estar mais ou menos informado e iluminado acerca do sentido do chavão tão conhecido, de acordo com o ambiente familiar, social e cultural de cada um!
Eu, pessoalmente, pertenço a uma família que, não tendo propriamente um historial de activismo político (salvo honrosas excepções) - sobretudo não antes de 74 - viveu oprimida durante o regime salazarista e foi afectada por ele, nomeadamente com a guerra ultramarina.
É um pouco triste constatar a mudança gradual de sentimento da generalidade das pessoas em relação ao significado desta data, triste mas nada surpreendente! Esta mudança não tem nada a ver com um sentimento geral mais ou menos revolucionário ou reacionário, tem única e exclusivamente a ver com a passagem do tempo e com o envelhecimento das pessoas!
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A elaboração deste post foi interrompida no dia 25 de Abril, a meio da tarde, porque aqui onde me encontro o dia não é feriado e tive de ir ensaiar!
O facto de agora me ter decidido publicá-lo é uma espécie de afirmação... de várias coisas, umas mais pessoais, outras mais (ou menos) ideológicas.
Não consigo sequer tentar concluir o que estava a escrever antes, até porque na altura, lembro-me, estava a começar a perder a fluidez, e a embrenhar-me numa confusão intelectual, conceptual, artística, literária, mental... em suma, estava a perder o fio à meada e a não dar conta do recado! Além disso, se o tentasse retomar agora, não antevejo que pudesse escrever algo minimamente mais claro ou relevante, tanto mais que me tenho andado a sentir extraordinariamente desinspirado (pelo menos, pelo menos (sic.) do ponto de vista literário), como se nota pela ausência de posts.
Portanto direi apenas que acho que o "bottom line", o cerne da questão que me apetecia abordar, é que dou uma enorme importância à data em causa, porque me foi ensinado o seu significado, e (pelo menos assim quero crer) porque pessoalmente me apercebo da importância fulcral que teve na nossa história nacional e nas vidas dos portugueses - dos que nasceram antes de 1974; dos que, como eu, nasceram relativamente pouco tempo depois e, porque não dizê-lo, dos que nascem hoje!!!
Esta teria sido a minha contribuição exclusivamente pessoal. Quanto a uma questão um pouco mais complexa - a de meditar acerca dos significados, consequências, extrapolações e possíveis malefícios de um certo "apagamento da memória" - talvez não me caiba a mim abordá-la e não tenha sequer ninguém com quem discuti-la. Assim como assim não me parece que tenha as competências - académicas, culturais, científicas, intelectuais, etc - necessárias ou suficientes para acrescentar verdadeiro conhecimento à sociedade (ainda que seja uma sociedade composta apenas pelos 2... 3 leitores do meu blog), e portanto acho que ficará por discutir... talvez para uma outra ocasião - pessoalmente espero celebrar o 33º aniversário, o 34º, talvez no 35º já esteja de novo em Portugal e espero que o 50º não me seja indiferente!!

Quanto ao que a publicação deste post possa ter de mais ou menos significativo... bem, quanto a conteúdos de carácter ideológico-social e a questões mais exteriores a mim próprio acho que não preciso de me alongar mais. Quanto ao que pode dizer sobre a minha pessoa... enfim, duas semanas de atraso dão para tirar muitas ilações! É um hábito: de vida, de trabalho, de abordar as responsabilidades; mas o post aqui está, tarde, mas está!!
É sintomático dos meus últimos meses (esta moleza... esta preguiça... esta letargia... que não é de agora, mas tem fases... às vezes está mais activa, outras vezes menos, ora parece que desaparece, ora que me paralisa. É assim como uma espécie peculiar de Herpes... corre-me no sangue, mas nem sempre está em chaga!) e não é por ser o 25 de Abril que foi mais ou menos negligenciado ou adiado. Quem me conhece melhor sente que ando ausente, até de me entregar às relações com as pessoas que me são verdadeiramente importantes, por exemplo - além de fisicamente, também na energia que lhes dedico!
Não sei nem se posso nem se devo fazer algo em relação a isto... mas pelo menos ao 25 de Abril aqui está o meu sincero pedido de desculpas sob a forma de um post egocêntrico!
E, para terminar, acho que este post também celebra, de uma - quiçá duas - maneiras muito particulares o espírito de Abril. Para já, fazendo um paralelo com outro feriado bem conhecido, acho que o 25 de Abril é (ou devia ser) quando um homem quiser!... ou uma mulher, que para alguma coisa se fez a revolução!! Finalmente, este post é a aplicação prática das conquistas de Abril (será que existiria a internet e os blogs sem o 25 de Abril?): este post é a afirmação da minha liberdade individual para celebrar a data quando bem me apetecer... mesmo que seja a 11 de Maio!
Viva a liberdade e viva o 25 de Abril!

2 comentários:

a disse...

ó meu amigo zé... nem sei que te diga, porque este post diz muito sobre o teu estado de espírito em relação à vida...e não somente ao 25 de abril. Em relação a este, tenho uma opinião muito parecida com a tua, também me faz uma certa confusão a falta de consciência existente na nossa geração relativamente a esta data, ao seu significado e resultado!
Quanto a ti...e a mim... sinto uma enorme necessidade de falar contigo sobre o sentido da vida, sobre as nossas dúvidas, medos, frustrações, alegrias... mas ao vivo! Sei que vou ter de esperar e que até lá (mesmo depois da conversa) vou continuar com as minhas inquietações.
Tenho saudades tuas... talvez escreva um post, sobre o sentido da vida, sobre as minhas inquietações...

Pedro disse...

Um, dois, três, experiência... Daqui Ministro em resposta aos seus comentários no meu ministério.
Afinal o teu post não é tão modesto como tu disseste!!
Estou plenamente de acordo com o que referes. Ontem passou no King um filme/documentário estrondoso da Susana Sousa Dias "Natureza Morta", sobre o Estado Novo. Depois da exibição houve uma pequena discussão com o Fernando Rosas e o António Costa Pinto, em que o primeiro referiu exactamente o que tu escreves no blog, ou seja, não se pode exigir aos mais novos que conservem a memória do fascismo e do 25 de Abril do mesmo modo do que os que o viveram e fizeram.
No entanto, cabe aos partidos políticos, movimentos civis, trabalhos cinematográficos, trabalhos académicos, manter viva a memória, para que todos saibam o que aconteceu. Assim sendo, torna-se de importância extrema conservar os locais como o edifício da PIDE em Lisboa, no porto, o forte de Peniche, etc.
Muitas mais coisas há a dizer sobre esta questão, mas não quero ocupar o teu blog todo. Obrigado por seres um leitor assíduo e crítico do meu blog.
Até amanhã, camarada!