terça-feira, outubro 04, 2005

Amizade e Comunicação

To P.M.
Amizade e comunicação têm bastante em comum. São fenómenos estranhos, misteriosos, difíceis de definir; parece não se saber muito bem como começam e onde deixam de funcionar, porque resultam ou não, como se estabelecem diferentes dinâmicas ao longo da sua existência e, sem dúvida, há muito de uma na outra - seja qual for a ordem dos factores que se escolha, mas principalmente parece-me ser indispensável uma boa dose de comunicação numa boa amizade, enquanto que, por outro lado, é mais agradável comunicar-se com alguém por quem se sente, pelo menos, alguma empatia!
Acho que é possível fazer um esforço, conscientemente, para criar, manter, melhorar e aprofundar tanto amizades como comunicações com outras pessoas, mas também acho que as mais gratificantes são aquelas que parece que simplesmente acontecem, sem mais nada, sem aviso, sem esforço, sem demasiadas expectativas, sem explicação aparente, enfim, sem problemas (não tenho a certeza de que isto exista, na verdade... pelo menos estas características todas ao mesmo tempo)!
Mas essas também são as mais difíceis de compreender, porque muitas vezes são quase ilógicas. Pessoalmente tenho experiência de pessoas com quem tanto a comunicação como a amizade que temos são absolutamente bizarras, e no entanto são as que mais prezo e pelas quais faria (e tenho feito) qualquer coisa para as manter, incluindo esforços para resolver quaisquer problemas que sinta que se lhes deparam!
Não tenho muitas amizades a sério e não sei explicar porquê. Há muita gente com quem comunico com uma facilidade incrível (talvez às vezes até com demasiada facilidade para a confiança que tenho com elas); depois um número um pouco mais pequeno de pessoas por quem posso pôr as mãos no fogo e que acho que fariam o mesmo por mim (mesmo assim aqui ainda está muita gente porque acho que sou um bocado crédulo); um círculo mais restrito de pessoas que me conhecem MUITO bem e que eu sei que estarão sempre lá para mim e vice-versa.
Talvez a estes últimos já possa chamar amigos, mas a verdade é que quando penso na palavra ocorrem-me sempre duas pessoas, bastante diferentes entre si e, sobretudo, com quem comunico de formas diametralmente opostas! Com uma comunico por palavras, por imagens, por pensamentos, por tudo e mais alguma coisa e às vezes até por nada; com a outra [que és tu, no caso de ficares com dúvidas] ainda não percebi se comunico ou não, nem como, mas a verdade é que a amizade continua sempre lá, estranha, forte, como um pano de fundo, uma camada subjacente, arcaica e primordial, uma energia... daí que tenha que pressupor que exista entre nós uma comunicação de qualquer tipo que eu não compreendo bem. É uma comunicação invisível, inaudível e impalpável. É etérea!
É talvez por isso que, chegado a este ponto da minha divagação e sem ter ponderado que isso pudesse acontecer, tenho de admitir que se calhar os dois sujeitos do meu texto não andem sempre a par, ao mesmo tempo e sob as mesmas formas; ou então há ainda mais formas de cada uma do que eu tinha suposto e são impossíveis sequer de catalogar, quanto mais de compreender, pelo menos para mim e para o meu pequeno intelecto!
O mais curioso de tudo, no entanto, é que este texto não é mais claro no fim do que o era no princípio, muito pelo contrário, e que não há ponto nenhum a provar, nem a defender, só a certeza da amizade... uma amizade estranha... uma comunicação estranha... mas que não trocava por nada!
Um grande abraço amigo, de longe, e já agora desculpa por já passar da hora, mas demorou-me mais tempo a atinar com os pensamentos e com os acentos num teclado alemão do que estava à espera... mas em Portugal ainda são 23:12 de dia 3!!!!!!!!!!!!!!

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