terça-feira, maio 16, 2006

O primeiro violoncelista da orquestra!

De súbito, a orquestra calou-se, apenas se ouve o som de um violoncelo, chama-se a isto um solo, um modesto solo que não chegará a durar nem dois minutos, é como se das forças que o xamã havia invocado se tivesse erguido uma voz, falando porventura em nome de todos aqueles que agora estão silenciosos, o próprio maestro está imóvel, olha aquele músico que deixou aberto numa cadeira o caderno com a suite número seis opus mil e doze em ré maior de johann sebastian bach, a suite que ele nunca tocará neste teatro, porque é apenas um violoncelista de orquestra, ainda que principal do seu naipe, não um daqueles famosos concertistas que percorrem o mundo inteiro tocando e dando entrevistas, recebendo flores, aplausos, homenagens e condecorações, muita sorte tem por uma vez ou outra lhe saírem uns quantos compassos para tocar a solo, algum compositor generoso que se lembrou daquele lado da orquestra onde poucas cousas costumam passar-se fora da rotina.


Idem

3 comentários:

a disse...

Fixe! Não conhecia, aliás eu confesso que nunca li nada do nosso prémio nobel... shame on me!
Deve ser engraçado identificares-te com algumas coisas que ele escreve aí... que livro é? n sei.

Z disse...

Ah pois... shame on you!
Apesar da ausência de pontuação (a partir do momento em que o leitor aceita isso, não como um erro mas como uma questão de estilo, deixa de chatear!) o nosso nobÉl vale mesmo a pena ler - por alguma coisa o homem ganhou o prémio, não?
São excertos do seu último livro que, de resto, te aconselho a ler. "As intermitências da morte". Lê-se num instante - mais uma vez, depois de te habituares à maneira como escreve - e é bem interessante e com um fino sentido de humor, misturado com muitas reflexões sérias e interessantes sobre a morte e, como outra face da mesma moeda e pela óbvia proximidade, sobre a vida!
Boa leitura!

180º disse...

Para quem começa a tentar entender a musica de uma forma mais consciente, graças aos amigos, este texto oferece-me a oportunidade de ler a multiplicidade de sentires musicais. Cativou-me com a mesma força que o meu amado jazz.
Obrigado pelo texto e obrigado pelo comentário no meu espaço.

Uma saudação blogista com vontade de ler mais neste espaço