terça-feira, maio 16, 2006

A morte, o Violoncelista e o cão.

A morte afagou as cordas do violoncelo, passou suavemente as pontas dos dedos pelas teclas do piano, mas só ela podia ter distinguido o som dos instrumentos (...)

O homem moveu-se, talvez sonhasse, talvez continuasse a tocar as três peças de Schumann e lhe tivesse saído uma nota falsa, um violoncelo não é como um piano, o piano tem as notas sempre nos mesmos sítios, debaixo de cada tecla, ao passo que o violoncelo as dispersa a todo o comprido das cordas, é preciso ir lá buscá-las (...)

Muito mais tarde, o cão levantou-se do tapete e subiu para o sofá. Pela primeira vez na sua vida a morte soube o que era ter um cão no regaço.


José... Saramago

1 comentário:

Anónimo disse...

Estava a ver que nunca mais lias o Livro...
Gostaste?
Porquê as reticências entre o José e o Saramago?
Gostaste, não há dúvida. Claro, as reticências querem dizer isso mesmo: que gostaste, que podia ser escrito por ti. Tambem acho. Mas creio que a tua construção seria mais correcta.
Beijinhos