quinta-feira, novembro 24, 2005

Som

Uma roda rodava pela rua,
redonda, rodopiava no asfalto.
As folhas afastavam-se, num susto,
à espera de serem esmagadas.

O céu cinzento sussurrava
ameaças de chuva sazonais
e os pássaros piavam, perdidos,
pelas portas dos prédios sempre iguais.

Um dia de Dezembro desinteressante,
de dor, de dormência e de tédio,
esperando, esquecido nesta estupidificação,
um estado de espírito que me desperte.

Conquanto continue a querer ficar aqui,
questiono-me constantemente
sobre o porquê desse querer,

tudo é tão triste, tétrico até,
totalmente contrário a tantas espectativas
que durante tanto tempo fui criando...

O céu é cinzento e chove sempre;
a comida cinzenta e sempre sem sabor,
e na rua a roda roda, roda...
as folhas afastam-se, fogem...
os pássaros piam...
Dormente, durmo, cá dentro
e deixo a dor lá fora quando desço
os cortinados sobre as janelas


A Haia - 7/VI/MMV

1 comentário:

a disse...

Incrível! Que melancolia, nem sem bem o que dizer, mas tenho a certeza que tanto cinzento antecede um belo arco-íris!