Deste-me nome de rua,
de uma rua de Lisboa.
Muito mais nome de rua
do que nome de pessoa
Um desses nomes de rua
que são nomes de canoa!
Nome de rua quieta,
onde, à noite, ninguém passa,
onde o ciúme é uma seta,
onde o amor é uma taça.
Nome de rua secreta,
onde, à noite, ninguém passa,
onde a sombra de um poeta
de repente nos abraça.
Com um pouco de amargura,
com muito da Madragoa.
A rua de quem procura
e o riso de quem perdoa.
Deste-me nome de rua
Numa rua de Lisboa
Nome de rua quieta,
onde, à noite, ninguém passa,
onde o ciúme é uma seta,
onde o amor é uma taça.
Nome de rua secreta,
onde, à noite, ninguém passa,
onde a sombra de um poeta
de repente nos abraça.
(P.s. - seguindo o conselho de um dos leitores do meu blog convém mencionar que este poema não é meu... mas é a letra de um fado já existente que pode vir a ser o meu primeiro passo nesta aventura "fadística" em que me vou meter... logo se vê!!)
quinta-feira, dezembro 15, 2005
quarta-feira, dezembro 14, 2005
Cinismo
É estranho ser apenas agora que publico o meu primeiro post directamente relacionado com música, ainda para mais um que não vai ser tão extenso como eu creio que o assunto mereceria, mas enfim, foi um pensamento que me ocorreu há uns minutos e que não se podia perder no nada do esquecimento e, assim, fica registado (a importância que possa vir a ter logo se vê)
Assistindo a um "voorspeelavond" (vulgo "audição" em Português) de Traverso numa sala muito pequenininha do KonCon e, distraido, enquanto ouvia, a olhar pela janela (a sala era num quinto andar, já agora) que dá para um amontoado de prédios enormes, uma autoestrada, várias linhas de comboio e de tram (eléctrico), etc, etc, etc, dei por mim a divagar e devanear acerca do sentido, se não da vida, pelo menos do meu rumo na vida, nomeadamente enquanto músico.
Vou explicar melhor.
A dicotomia e desfasamento entre 2005 - com a autoestrada, os prédios, o comboio, etc, que, por si só já são um pouco "chocantes", mas funcionam aqui só como amostra e metáfora do nosso tempo, do nosso século, com o que tem de bom mas, sobretudo, com o que tem de mau - e uma Cantata de Telemann, uma Sonata de Bach, uma Suitte de Hotteterre, Uma Sonata de Leclair ou outra de Händel, enfim aquilo que eu escolhi fazer na vida, esse desfasamento, dizia eu, é demasiado grande, diria quase monstruoso, para que, pelo menos, não valha a pena eu me deter um bom bocado a pensar sobre a questão!
E a questão é... porquê? qual o sentido? de ouvir e sobretudo de fazer música escrita há 400, 350, 300 anos!!??
É evidente que a resposta simples a esta questão complexa está na Música, ela própria, em geral e em cada uma das peças individualmente! Mas há mais, tem de haver mais (de outro não me teria dignado a passar estes pensamentos para palavras escritas!)
E esse extra de dúvida e problemática reside noutra questão... COMO? como fazer música, como tocá-la, como viver perante ela, que papel e participação lhe atribuir na vida!? Este post chama-se cinismo porque essa é uma das maneiras de responder a esta questão: como? com cinismo! Sim, exactamente, não é engano! É cínico tentar tocar-se a música (pelo menos esta música) com uma autenticidade que será sempre inatingível!!!
A esta conclusão não cheguei eu em primeira mão, longe disso! Mesmo os puristas e mais fervorosos adeptos da autenticidade na interpretação de música antiga, se forem minimamente inteligentes e/ou não estiverem já completamente desligados do mundo real, do séc. XXI já devem ter vislumbrado algo semelhante a isto - embora duvide de que lhes passe pela cabeça usar a palavra cinismo - por estas ou por outras palavras, pelas mesmas ou por razões ligeiramente diferentes.
Se eu sei o que é um comboio, um arranha-céus, uma autoestrada ou, muito mais significativamente, uma bomba atómica, não posso aspirar a tocar a minha suite de Philidor como ela seria tocada por um músico do séc. XVIII em França que, obviamente, ficaria tão estupefacto se, por acidente, viesse parar ao século XXI como eu, se fosse parar ao XVIII!
Um purista diria que, não sendo um objectivo atingível, é um ideal a perseguir... eu (pelo menos hoje) chamo-lhe cinismo! Se eu nunca tocarei a música como ela soava há 300 anos - por todas as razões e mais uma - se eu sei disso, se os outros sabem disso e se sabem que eu sei disso, então, se eu o tentar fazer obstinadamente, isso é cinismo!
Esto no departamento de "Early Music and Historical Performance Practice" - música antiga e interpretação histórica... na Música Antiga acredito... da Interpretação Histórica reservo-me o direito de duvidar (enfim, resta saber QUE interpretação histórica... DE QUEM... QUE Interpretação... QUE História????).
Não posso tocar essa música dessa maneira, mas se calhar NÃO QUERO tocar essa música dessa maneira! Quero tocar essa música da melhor forma possível, mas será sempre a minha maneira... À MINHA MENEIRA!
Em relação à minha escola... bem, continuo a achar as vantagens incomparavelmente maiores do que as desvantagens (com interpretação histórica à mistura e tudo), e acho que o melhor que tenho a fazer é aprender o mais e melhor possível a tocar esta múscia, mesmo nesta corrente estilística... se não o conseguir não vou ter legitimidade para depois dizer... não, não é isto que eu quero!
Por isto mesmo e porque o post já vai mais longo do que eu estava à espera, tenho de me despedir, já estou atrasado para um ensaio!
Vou fazer música antiga...
Assistindo a um "voorspeelavond" (vulgo "audição" em Português) de Traverso numa sala muito pequenininha do KonCon e, distraido, enquanto ouvia, a olhar pela janela (a sala era num quinto andar, já agora) que dá para um amontoado de prédios enormes, uma autoestrada, várias linhas de comboio e de tram (eléctrico), etc, etc, etc, dei por mim a divagar e devanear acerca do sentido, se não da vida, pelo menos do meu rumo na vida, nomeadamente enquanto músico.
Vou explicar melhor.
A dicotomia e desfasamento entre 2005 - com a autoestrada, os prédios, o comboio, etc, que, por si só já são um pouco "chocantes", mas funcionam aqui só como amostra e metáfora do nosso tempo, do nosso século, com o que tem de bom mas, sobretudo, com o que tem de mau - e uma Cantata de Telemann, uma Sonata de Bach, uma Suitte de Hotteterre, Uma Sonata de Leclair ou outra de Händel, enfim aquilo que eu escolhi fazer na vida, esse desfasamento, dizia eu, é demasiado grande, diria quase monstruoso, para que, pelo menos, não valha a pena eu me deter um bom bocado a pensar sobre a questão!
E a questão é... porquê? qual o sentido? de ouvir e sobretudo de fazer música escrita há 400, 350, 300 anos!!??
É evidente que a resposta simples a esta questão complexa está na Música, ela própria, em geral e em cada uma das peças individualmente! Mas há mais, tem de haver mais (de outro não me teria dignado a passar estes pensamentos para palavras escritas!)
E esse extra de dúvida e problemática reside noutra questão... COMO? como fazer música, como tocá-la, como viver perante ela, que papel e participação lhe atribuir na vida!? Este post chama-se cinismo porque essa é uma das maneiras de responder a esta questão: como? com cinismo! Sim, exactamente, não é engano! É cínico tentar tocar-se a música (pelo menos esta música) com uma autenticidade que será sempre inatingível!!!
A esta conclusão não cheguei eu em primeira mão, longe disso! Mesmo os puristas e mais fervorosos adeptos da autenticidade na interpretação de música antiga, se forem minimamente inteligentes e/ou não estiverem já completamente desligados do mundo real, do séc. XXI já devem ter vislumbrado algo semelhante a isto - embora duvide de que lhes passe pela cabeça usar a palavra cinismo - por estas ou por outras palavras, pelas mesmas ou por razões ligeiramente diferentes.
Se eu sei o que é um comboio, um arranha-céus, uma autoestrada ou, muito mais significativamente, uma bomba atómica, não posso aspirar a tocar a minha suite de Philidor como ela seria tocada por um músico do séc. XVIII em França que, obviamente, ficaria tão estupefacto se, por acidente, viesse parar ao século XXI como eu, se fosse parar ao XVIII!
Um purista diria que, não sendo um objectivo atingível, é um ideal a perseguir... eu (pelo menos hoje) chamo-lhe cinismo! Se eu nunca tocarei a música como ela soava há 300 anos - por todas as razões e mais uma - se eu sei disso, se os outros sabem disso e se sabem que eu sei disso, então, se eu o tentar fazer obstinadamente, isso é cinismo!
Esto no departamento de "Early Music and Historical Performance Practice" - música antiga e interpretação histórica... na Música Antiga acredito... da Interpretação Histórica reservo-me o direito de duvidar (enfim, resta saber QUE interpretação histórica... DE QUEM... QUE Interpretação... QUE História????).
Não posso tocar essa música dessa maneira, mas se calhar NÃO QUERO tocar essa música dessa maneira! Quero tocar essa música da melhor forma possível, mas será sempre a minha maneira... À MINHA MENEIRA!
Em relação à minha escola... bem, continuo a achar as vantagens incomparavelmente maiores do que as desvantagens (com interpretação histórica à mistura e tudo), e acho que o melhor que tenho a fazer é aprender o mais e melhor possível a tocar esta múscia, mesmo nesta corrente estilística... se não o conseguir não vou ter legitimidade para depois dizer... não, não é isto que eu quero!
Por isto mesmo e porque o post já vai mais longo do que eu estava à espera, tenho de me despedir, já estou atrasado para um ensaio!
Vou fazer música antiga...
sexta-feira, dezembro 02, 2005
A boca do inferno
Quem me conhece melhor sabe que sou um fã confesso (entre outros) do tipo de humor do Gato Fedorento.
A minha namorada não gosta, eu sei, tento compreender mas é-me complicado, e já desisti até de a tentar convencer. Acho que é aquele "je ne sais quoi" de "non-sense", com umas influências longínquas de Monty Python, mas muito menos britânico, muito mais tuga, que é capaz de ser o que me atrai a mim e a deixa indiferente a ela (a porTUGAlidade escarrapachada)! É pateta até dizer basta e acho que é esse o único segredo, se é que é segredo: é, enfim, RIDÍCULO (vide as origens etimológicas da palavra).
Mas o assunto do post é outro, é um dos membros "gone solo". É como se de um consort ou ensemble, se retirasse apenas um elemento e se o atirasse às feras. Esse elemento é o Ricardo Araujo Pereira que, para quem não saiba ainda, é um dos mais recentes colunistas da Visão (esse elo de ligação deste emigrante que aqui escreve entre Portugal e um enclave que existe aqui na Holanda - o meu quarto), que acho que se dá muito bem com esse tipo de número, sem rede.
O tipo de humor d'A boca do inferno é refinada e subtilmente diferente de, por exemplo, o do gato fedorento (e de outros tipos de humor mais boçais que não deixo de apreciar... assim tipo Manuel João Vieira - deixem-me fazer um pouco de (pré)-campanha (pré)-presidencialista: "Um Banana para uma república" e "Só desisto se for eleito", etc. etc. etc., se não conhecem deviam ir pesquisar em www.vieira2006.com). Falta lá precisamente a porTUGAlidade escarrapachada e é simultaneamente mais soft, menos hilariante, mas mais sério, um pouco mais intelectual e, em momentos de genialidade, muito mais pertinente (ou impertinente).
É desses momentos de génio que me apetece falar, sobretudo porque, como leitor assíduo que sou das suas crónicas, consigo seguir também as oscilações de forma do cronista (a linguagem e metáfora futeblística encaixa-se aqui bem, acho eu). A verdade é que, apesar de continuar a ler as suas crónicas semanalmente, acho que o Ricardo andava fora de forma. 'Tá bem, arrancava-me de vez em quando uma garagalhada esporádica, mas nada que alterasse substancialmente o meu estado de espírito e humor. Estava já a ficar preocupado porque acho que isto vinha acontecendo já há algumas semanas ou até meses... até esta quinta feira!
Amigos, aconselho vivamente a leitura da crónica desta semana. Mas Atenção: se nunca leram uma "crónica" do também colaborador da visão António Lobo Antunes (não sei bem se são crónicas, o que publica o escritor na visão) provavelmente nem vão rir sequer... mas se fizerem a experiência de ler umas quantas crónicas do António, mais umas quantas do Ricardo e por fim a desta semana do último, então vão perceber a síntese entre António, Ricardo, Visão e Gato Fedorento.
Acho que é precisamente assim que se deve parodiar uma pessoa (se alguém alguma vez escrever assim sobre mim, ou imitar o meu estilo, a fazer seja o que for, da mesma forma que a "caricatura" do António pelo Ricardo, eu vou rir a bandeiras despregadas e vou sentir-me honrado!). Sinceramente nunca li nada de Lobo Antunes (que eu saiba, por exemplo um sobrinho dele que eu cá sei também nunca leu, por isso não deve ser muito grave a minha ignorância, porque o sobrinho é um músico fantástico e uma pessoa porreiríssima), mas tenho respeito pelo senhor apesar da sua crónica bi-mensal ser das poucas coisas que nunca ou raramente leio na Visão. Mas acho que o Sr. Lobo Antunes, se tiver sentido de humor, se sentirá honrado pel'A boca do inferno desta semana... tinha curiosidade em saber, por acaso... mas se não, aí é que eu nunca me meteria a ler um livro dele!
Z dixit, mas já chega. Basta também de posts telegráficos, mas se calhar este passou um pouco do barroquista para o lado do "testament-like"
Não sei se hei-de escrever sobre as minhas orientações políticas, mormente na questão das presidênciais que se aproximam... vou pedir aos meus pouquíssimos leitores assíduos (eu sei quem vocês são e que estão aí desse lado do computador... até vos estou a ver as caras e tudo) que me dêem algum feed-back sobre o assunto e depois decido se torno ou não públicas as minhas opiniões bastante básicas sobre política.
Tijay
A minha namorada não gosta, eu sei, tento compreender mas é-me complicado, e já desisti até de a tentar convencer. Acho que é aquele "je ne sais quoi" de "non-sense", com umas influências longínquas de Monty Python, mas muito menos britânico, muito mais tuga, que é capaz de ser o que me atrai a mim e a deixa indiferente a ela (a porTUGAlidade escarrapachada)! É pateta até dizer basta e acho que é esse o único segredo, se é que é segredo: é, enfim, RIDÍCULO (vide as origens etimológicas da palavra).
Mas o assunto do post é outro, é um dos membros "gone solo". É como se de um consort ou ensemble, se retirasse apenas um elemento e se o atirasse às feras. Esse elemento é o Ricardo Araujo Pereira que, para quem não saiba ainda, é um dos mais recentes colunistas da Visão (esse elo de ligação deste emigrante que aqui escreve entre Portugal e um enclave que existe aqui na Holanda - o meu quarto), que acho que se dá muito bem com esse tipo de número, sem rede.
O tipo de humor d'A boca do inferno é refinada e subtilmente diferente de, por exemplo, o do gato fedorento (e de outros tipos de humor mais boçais que não deixo de apreciar... assim tipo Manuel João Vieira - deixem-me fazer um pouco de (pré)-campanha (pré)-presidencialista: "Um Banana para uma república" e "Só desisto se for eleito", etc. etc. etc., se não conhecem deviam ir pesquisar em www.vieira2006.com). Falta lá precisamente a porTUGAlidade escarrapachada e é simultaneamente mais soft, menos hilariante, mas mais sério, um pouco mais intelectual e, em momentos de genialidade, muito mais pertinente (ou impertinente).
É desses momentos de génio que me apetece falar, sobretudo porque, como leitor assíduo que sou das suas crónicas, consigo seguir também as oscilações de forma do cronista (a linguagem e metáfora futeblística encaixa-se aqui bem, acho eu). A verdade é que, apesar de continuar a ler as suas crónicas semanalmente, acho que o Ricardo andava fora de forma. 'Tá bem, arrancava-me de vez em quando uma garagalhada esporádica, mas nada que alterasse substancialmente o meu estado de espírito e humor. Estava já a ficar preocupado porque acho que isto vinha acontecendo já há algumas semanas ou até meses... até esta quinta feira!
Amigos, aconselho vivamente a leitura da crónica desta semana. Mas Atenção: se nunca leram uma "crónica" do também colaborador da visão António Lobo Antunes (não sei bem se são crónicas, o que publica o escritor na visão) provavelmente nem vão rir sequer... mas se fizerem a experiência de ler umas quantas crónicas do António, mais umas quantas do Ricardo e por fim a desta semana do último, então vão perceber a síntese entre António, Ricardo, Visão e Gato Fedorento.
Acho que é precisamente assim que se deve parodiar uma pessoa (se alguém alguma vez escrever assim sobre mim, ou imitar o meu estilo, a fazer seja o que for, da mesma forma que a "caricatura" do António pelo Ricardo, eu vou rir a bandeiras despregadas e vou sentir-me honrado!). Sinceramente nunca li nada de Lobo Antunes (que eu saiba, por exemplo um sobrinho dele que eu cá sei também nunca leu, por isso não deve ser muito grave a minha ignorância, porque o sobrinho é um músico fantástico e uma pessoa porreiríssima), mas tenho respeito pelo senhor apesar da sua crónica bi-mensal ser das poucas coisas que nunca ou raramente leio na Visão. Mas acho que o Sr. Lobo Antunes, se tiver sentido de humor, se sentirá honrado pel'A boca do inferno desta semana... tinha curiosidade em saber, por acaso... mas se não, aí é que eu nunca me meteria a ler um livro dele!
Z dixit, mas já chega. Basta também de posts telegráficos, mas se calhar este passou um pouco do barroquista para o lado do "testament-like"
Não sei se hei-de escrever sobre as minhas orientações políticas, mormente na questão das presidênciais que se aproximam... vou pedir aos meus pouquíssimos leitores assíduos (eu sei quem vocês são e que estão aí desse lado do computador... até vos estou a ver as caras e tudo) que me dêem algum feed-back sobre o assunto e depois decido se torno ou não públicas as minhas opiniões bastante básicas sobre política.
Tijay
Subscrever:
Mensagens (Atom)